Salvador ganha primeira clínica especializada só para jovens e adultos autistas

Clínica AutismA vai atender neurodivergentes com idade a partir de 12 anos; consultas custam entre R$ 150 e R$ 400

Por EmPauta.net 25/03/2024 - 17:35 hs

Uma clínica totalmente voltada para atender pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e outras neurodivergências, que já passaram da fase infantil. Essa é a proposta da AutismA (@espacoautisma), primeira clínica baiana interdisciplinar especializada nessa faixa etária, que, por muitas vezes, é diagnosticada tardiamente ou encontra dificuldades de acompanhamento após sair da infância. Com consultas particulares que podem variar de R$ 150 a R$ 400, dependendo da especialidade, a unidade tem capacidade para realizar mais de 2 mil sessões ao mês, fora as atividades coletivas como grupos de habilidades, educação digital, teatro e karatê.

“A crescente conscientização sobre o TEA e a demanda por serviços especializados para indivíduos autistas têm impulsionado o desenvolvimento de clínicas e centros de atendimento dedicados a essa população. No entanto, já havíamos observado que aqui em Salvador esse movimento era crescente para atender a demanda infantil, mas não encontrávamos nada que fosse mais focado em adolescentes e adultos neste modelo mais amplo e envolvendo várias áreas profissionais”, explica a sócia, médica e doutoranda em Medicina e Saúde, Rachel Silvany.

Localizada no Caminho das Árvores, em Salvador, os atendimentos acontecem a partir do dia 6 de abril, quando a AutismA será inaugurada. A clínica vai contar com uma equipe de médicos, psicólogos, pedagogos, fonoaudiólogos, psicopedagogos, neuropsicólogos, sexólogos, terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas. Além disso, a AutismA vai oferecer também acompanhante terapêutico (AT).

“A atenção em relação ao tratamento não medicamentoso está muito mais voltada para a infância em função da neuroplasticidade cerebral. Porém, os autistas crescem. Viver a adolescência sendo neurotípico já não é tão simples, imaginem sendo neurodivegente? Ao investir em uma clínica especializada nesse público-alvo, estamos garantindo um atendimento personalizado e focado nas particularidades e desafios que os autistas adolescentes e adultos enfrentam”, ressalta.

"Ao investir em uma clínica especializada nesse público-alvo, estamos garantindo um atendimento personalizado e focado nas particularidades e desafios que os autistas adolescentes e adultos enfrentam"

No acompanhamento, atenção, sobretudo, às questões relacionadas à independência, autonomia, habilidades sociais, inserção no mercado de trabalho e na sociedade, bem como o suporte emocional necessário para lidar com as transições e mudanças que ocorrem nessa fase da vida. “O TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta a comunicação, interação social e padrões de comportamento da pessoa. O diagnóstico pode ser feito geralmente na infância, mas os sintomas e obstáculos associados ao autismo persistem ao longo da vida”.

Jovens e adultos com TEA podem apresentar uma variedade de características e necessidades específicas, dependendo do seu grau de funcionamento e das particularidades do seu quadro clínico. “Eles podem ter dificuldades na comunicação verbal e não verbal, na interação social, na compreensão de emoções, em aspectos educacionais e de trabalho, em sua sexualidade e na adaptação a mudanças no ambiente. Além disso, muitas vezes enfrentam questões relacionadas à alimentação, sono, sensibilidades sensoriais e comportamentos repetitivos e adaptativos”, complementa Rachel Silvany.

Rachel Silvany  - Foto: Marina Silva/ CORREIO

A AutismA vai ter ainda um horário de atendimento diferenciado, como explica a outra sócia da clínica e doutora em Enfermagem e Saúde, Carolina Barbosa. Os atendimentos podem ser agendados das 7 às 21h. “O horário será ampliado para aqueles que estudam e trabalham. Já temos pessoas procurando pelo serviço e estamos listando carinhosamente para quando já estivermos operando”. Cerca de R$ 300 mil foi investido na clínica, que fez uma pesquisa de mercado para atender as necessidades de autistas com mais de 12 anos:

“Existem modelos parecidos no país e fora também. Chegamos a esse formato de clínica por meio de experiências com autistas adultos, nossas experiências em diversas áreas, muito estudo de mercado e ideias de profissionais que serão parceiros. Infelizmente, a falta de acesso a serviços especializados para autistas adultos ainda é um gargalo para difundir a importância desse tratamento. Falta formação e capacitação profissional, integração de abordagens terapêuticas, educação, conscientização, pesquisa e o mais importante, acesso à toda população”, afirma Carolina Barbosa.

"Existem modelos parecidos no país e fora também. Chegamos a esse formato de clínica por meio de experiências com autistas adultos, nossas experiências em diversas áreas, muito estudo de mercado e ideias de profissionais que serão parceiros" (Carolina Barbosa sócia)

O Ministério da Saúde não possui dados estatísticos de quantos indivíduos brasileiros possuem TEA, nem em qual região ou estado estão localizados. A partir da publicação do Censo Demográfico 2023, em nota, o Ministério da Saúde disse que é esperado um panorama oficial acerca da quantidade de pessoas com autismo no Brasil. No âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) e, especificamente, da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência (RCPD), atualmente existem no Brasil 266 serviços habilitados que ofertam a modalidade intelectual e é neste componente que as pessoas com Transtorno do Espectro Autista são atendidas.

Na Bahia, a rede pública de saúde conta com o Centro de Referência do Transtorno Autista (CRE-TEA). Já em Salvador, o atendimento de autistas adultos pode ser feito nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) da rede municipal. A secretaria de saúde realiza também o encaminhamento para os Centros Especializados em Reabilitação (CER), que atendem a demanda através da Central da Regulação.

Inclusão

O gestor financeiro de empresas e o coordenador do curso de Ciências Contábeis da Wyden, Ewerton Ribeiro, reconhece que existe uma tendência significativa no setor de atendimento para autistas, principalmente, se estiver focada na personalização e na individualização dos serviços. “Ao oferecer serviços adaptados às necessidades de cada pessoa dentro do espectro autista, as empresas não apenas expandem seu mercado, mas também promovem a inclusão e a igualdade de oportunidades. Além disso, esses serviços podem melhorar a qualidade de vida dos autistas, fornecendo suporte e recursos que lhes permitam desenvolver suas habilidades e participar plenamente da comunidade”, comenta.

O mercado que busca cada vez mais novidades que promovam a inclusão, o desenvolvimento de habilidades e que facilitem a transição do autista para a vida adulta. “O pioneirismo de uma clínica especializada para o público autista é extremamente positivo. Essas clínicas podem desempenhar um papel fundamental na inclusão e autonomia do jovem e adulto autista”.

Fonte: Correio